GRAFIAS DO MATO
Grafias do mato: escrita assêmica entre pixo e pincel
Grafias do Mato é uma série que nasce da escuta sensível da paisagem como grafia. A partir da vivência e da memória do Centro-Oeste brasileiro, especialmente de Mato Grosso do Sul, os trabalhos propõem um exercício de transcrição do mato enquanto linguagem — não apenas como vegetação ou cenário, mas como força ativa, codificadora de existência.
Aqui, o mato não é fundo: é sujeito. Gestos, manchas, queimadas, vazios e densidades tensionam a ideia de um território domesticado, padronizado, cortado, podado, contido. Em suportes mistos entre pintura e escultura, essas grafias se manifestam como vestígios de uma paisagem em constante reinvenção — entre a presença e o apagamento, entre o que se pode nomear e o que escapa.
A série estabelece um diálogo entre a pintura clássica a óleo e a escrita do pixo, entendida aqui como forma de protesto do mato. O encontro dessas linguagens desloca o mato para o centro, revelando-o como escritura própria, indisciplinada e resistente. O mato é tratado como código ancestral e futuro, campo fértil de fabulação e insubmissão. Ao inscrever essas marcas no espaço da arte, busco reconfigurar a centralidade dos discursos visuais, deslocando o eixo para uma margem viva — onde o mato, tão recorrente quanto ignorado, se afirma como escrita aberta, afetiva e crítica.






